quinta-feira, 23 de abril de 2015

MICROCONTOS 46, 47, 48, 49, 50

46 Na Espanha, os touros correm velozes em busca de liberdade. Ramiro nunca soube definir o sentido disso, mas corria como louco na frente de touros ferozes para alimentar sua alegria de viver. No fim, voltava para as estranhas maratonas de corpos sem energias dos hospitais públicos onde trabalhava e o sexo sem compromisso onde quer que fosse. Que sentido tinha viver isso ou assim? Ele não sabia e nem queria saber. Em tudo e para tudo virava as costas quando o dia de correr com os touros chegava. Ele virava as costas sem pensar e alojava em seus movimentos o ‘nada’ das correrias pela vida. À noite, depois de largar suor pelas esquinas da cidade, não conseguiu separar o joio do trigo e perdeu América: virar as costas tantas vezes o cegou para o brilho da parceria plena. E correr não era mais uma opção. Claudia Nunes

47 Aos olhos da família, Laura era uma pessoa do bem. Amava estudar; tinha amigos variados; vivia animada e de forma positiva. Aos olhos de Laura, o mundo era pequeno, tenso, estranho e assustador. Duas forças em um corpo alongado e doente. Laura era doente: ansiedades, loucuras, riscos, tudo servia para tentar diminuir sua fragilidade: o constante impulso de morte. Aos olhos do mundo, Laura é diva e um grande blefe. O que fazer para evitar um desastre? Nada! Fingir, mentir, disfarçar eram armas possantes que a fortaleciam na vida. Arrogância, presunção, soberba eram combatidas em cada emoção ou ação, afinal isso também era ela. Na pele, os cremes da alegria. No sangue, as células da verdade. Sem forças e sem alternativas, Laura fugiu para Turquia: entre incensos e meditações, Lauro apareceu e foi a conexão perfeita, ainda que tenha sido presa no Rio de Janeiro por falsificação de identidade. Claudia Nunes

48 Meditar. Carolina meditava. Aprendera com a avó: meditar tranquilizava. Sem amor, ela meditava. Tremia muito e optara: meditar. Não queria pensar, queria refletir: queria ser um espelho. Ela não se conhecia e perdera o amor. Aquele telefonema tinha sido assustador: acabou! Onde está o chão? Onde encontrar sentidos? Onde estão todos? Carolina se perdeu. Em desvio, se perdeu. Nada havia de errado: ela apenas precisava meditar e se destruir. Pensamentos e atitudes são opções de sobrevida, ainda que ela não os tenha mais por dentro e por fora de seu corpo em total ebulição. Deitada, Carolina se esvai numa tsunami de emoções. Carolina quer a limpeza de determinadas programações mentais. No meio do processo, marteladas lhe distraem. O apartamento de cima está em obras. Abandonada no chão da sala não acredita no desrespeito das pessoas: “ela perdeu porque não a deixam entender?” Pac! Pac! Pac! Carolina se levanta, se arruma, abre a porta e corre pelo corredor até seu vizinho. “Deixem-me em paz! Deixem-me sofrer! Deixem-me morrer!” De manha, ainda se encontrava acordada, chorando muito, ouvindo jazz, com a vizinha, a freira Madalena... Claudia Nunes

49 Sentado em seu sofá de flores imensamente coloridas, Júlio não se conforma: não consegue mudar. Ao olhar pela janela, sente que tudo mudou, mas ele se engessara. Ninguém ficou. Ninguém voltou. Ninguém está em lugar nenhum: e a casa era só dele. Péssimo! Isso era péssimo! Toda a evolução foi para fora e ele nem percebeu. Cristina, Lucia, Lucas, Sonia, Roberto, ninguém ficou, voltou ou está em lugar nenhum. Do sofá, ele foi bloqueado. Só as flores tinham sentido: grandes, enormes, brilhantes. Só as flores desviavam seus olhos do vazio em que insistiam em ver e sentir. Só as flores se esforçavam para alertá-lo: tente outra vez! Só as flores incomodavam: ele era a evidencia da vida. Ao som de um apito de trem, seu corpo estremeceu, correu, pulou e respirou intensamente os perfumes do horizonte sem fim: ‘parabéns para mim!” Claudia Nunes

50 “João, atitude, eu quero atitude!” assim pedia Iracema. Uma atitude, uma palavra, um pedido: problema resolvido. Difícil enxergar isso por dentro dos amantes tão inteiros e tão separados. Sem perceber Iracema pedia demais. João era só João e como João não havia bloqueios e nem estresse. Perto, longe, ao lado ou à esquerda, ele era ele mais o amor dele por ela. Nunca pensaram na rotina; nem imaginaram as despesas; apenas concluíram que, por eles, até a sobra seria deles também. Caminhando por uma rua, as vitrines chamaram a atenção de Iracema: um manequim. Lindo, o manequim. João e o manequim. Iracema e sua escolha. No fim da rua ou no fundo de um armário, “João, atitude, eu quero atitude!”. Quando a vizinhança acorda: o sangue de Carla, a dona da loja, escorria pelas escadas e Iracema sorria. Claudia Nunes


MICROCONTOS 41, 42, 43, 44, 45

41 Nenhuma viagem tem volta, assim acordou Lima. Nenhuma viagem termina, assim levanta Lucia. Nenhuma viagem se esgota, assim se banha Leila. Nenhuma viagem se esquece, assim se veste Lara. Nenhuma viagem se vence, assim pensava Lírio. Nenhuma viagem termina, assim sentimos os mortos. Num cemitério de subúrbio, muitas viagens interrompidas. Claudia Nunes

42 Quem é capaz de dar conta do sujo da vida? Em seu escritório, imunda, depois de um dia de trabalho, Arlete se pensa. Em seu corpo a sujeito do seu coração. Ela não valia nada. Sua irmã partira magoada e ela era incapaz de se arrepender. Só podia trabalhar e continuar se sujando... se sujando muito. Tudo foi perdido sem nenhuma advertência. Ela era a culpada. Esqueceu a paciência, a beleza e a sinceridade nos olhos de no corpo de Franco, seu cunhado. A vaidade e o impulso foram seus ideais e sua perdição. Sem tempo, a sujeira dos armários e da arrogância. Claudia Nunes

43 Embora sua formação tenha sido uma das melhores da sociedade, Lívia esperava. O tempo passava e ela esperava. Qual era o gosto de esperar? Não sabia, mas esperava. Era pessoa de bem, calma e tranquila, embora isso não fosse vantagem nenhuma. Mas esperava... Seus sonhos ainda eram sonhos. Famílias, filhos, trabalho, tudo conquistado. E esperar era o de melhor sabia fazer. Onde estão os significados das coisas cujo gosto nos faz sorrir? Ela não sabia. Da varanda, observa uma fogueira se apagando, relaxa e, sem egoísmo, se rende à tormenta de olhos bem fechados.  ‘Lívia, Lívia, o leite derramou!!!!!!!’ Claudia Nunes

44 Todos os dias em 24 horas os dois se reencontram para viver o melhor de tudo: o dia. Não se perdem e nem se separam. Um dia depois do outro, os olhos atendem a um chamado: luz. São rápidos, estão em sintonia, são fortes, estão em evolução. Os dois, sem excessos, se permitem ao dia com amor, muito amor. Muitas mensagens reais; outras nem tanto; muita diversão; algumas expectativas; mas o dia é indestrutível. À noite, corações acelerados se esvaem em espíritos do bem sem interesses ou escolhas prévias. Bom dia abraço! Claudia Nunes


45 A raiva é um esconderijo bem limitante às fragilidades. Diante dela é possível reconhecer o que podemos ser apesar dos malabarismos sociais e Arminda sabia disso. Amiga de Célia por anos, não percebeu os desvãos das emoções alheias; não percebeu que sua vitalidade instalava sentimentos doídos na amiga. Célia convivia, sorria, participava, mas não era Arminda.  Sem alternativa para tanta admiração, minava tudo que tocava, e Arminda nada via. Amigas e injustas por anos. Houve um tempo de crescimento e sucesso, mas também de punições internas e violências; e Arminda não sentia nada. Sem pressa, Bruno surge como alternativa. Ele não é o certo, é o que se tem. Arminda investe. Célia se mascara. Bruno acredita. Arminda se doa. Célia ilude. Bruno sonha. Ninguém faz nada do que merece ou parece. Arminda e Célia em euforia. Bruno de contrapeso e no contrapé. Num dia, no parque, uma cartomante avisa: sua desistência será sua felicidade. Arminda se mata. Bruno se muda. Célia se alimenta. E a canção continua. Claudia Nunes.

O mundo PAULO BARROS



"Quando só se pensa como sempre se pensou, só se vai manter o que sempre se manteve - as mesmas velhas ideias". (Michael Michalko, um dos mais importantes treinadores da criatividade nos Estados Unidos)

Sem sombra de dúvidas, as formas de pensar mudaram. Se elas ficaram mais velozes, mais superficiais, mais simples, mais incompreensíveis, mais dinâmicas, não sabemos ao certo, mas elas mudaram e essa mudança vem mudando as dinâmicas da sociedade quiçá da escola. Neste viés, as práticas de ensino estão precisando de upgrades urgentes. Sei que muitos já falaram sobre isso, pelo menos, há uns 10 anos se fala sobre isso, mas, ainda assim, é perceptível a forte resistência de todos, todos mesmo, quanto à consciência efetiva destas ‘outras’ formas de pensar e suas práticas redimensionadoras dos comportamentos cognitivos, emocionais e físicos. Desta feita, há a constante necessidade de livros e livros sobre o assunto.

Só que é justamente ai o meu incomodo. Livros e livros sobre o assunto, e a velha performance do ‘aprender a aprender’ com um privilégio absurdo sobre a concepção do conhecimento. Hoje eu quero pensar, junto a vocês, sobre o aprender FAZENDO, algo importante aos cérebros aprendentes, às relações afetivas (ou não) e a chamada ‘criatividade’. E sem querer eu me defrontei com a leitura de um livro de/sobre PAULO BARROS (carnavalesco) e suas formas de pensar (criar) enredos carnavalescos. Eu então parei para pensar em outra dimensão: o mundo PAULO BARROS na escola.

Há um mantra na escrita e na fala acadêmica: a geração atual (aprendentes da modernidade / nativos digitais) precisa aprender por desafios, por colaboração, através da proatividade e de forma contextualizada. Mais do que os conteúdos, é preciso criar uma ‘neuróbica’ das informações até a criação de pensamentos que solucionem atividades ou que gerem criticidades realistas e criativas. Nossa, que lindo! Só que todo docente quer saber COMO? Essa é a pergunta do docente do século XX, com conhecimento do século XIX, pensando no aluno do século XXI: COMO? Diante de nós, a percepção da mudança das formas de pensar e agir criando dificuldades aos docentes imersos em políticas públicas pouco afeitas à valorização da Educação e do educador, por exemplo. Há o choque de sensações. Há o sentido real da obsolescência. Há grande dificuldade nas resiliências. Mas o COMO permanece sem sutilezas.

Somos todos inteligentes. Somos todos sensórios em processo de racionalização para sobreviver e conviver. Logo DESAFIAR perpassa por algumas palavras-chave: CURIOSIDADE, FLEXIBILIDADE, DISPONIBILIDADE e, por fim, CRIATIVIDADE.  A inteligência, capacidade de se orientar em meio a situações novas e desconhecidas, A PARTIR, por exemplo, da curiosidade (desejo de conhecer), é estimulada quando, segundo Sidarta Ribeiro, o cérebro é desperto a realização de atividades cujas predições criam outras neurovias comparativas contínuas em busca de soluções ou resultados. Em cena, a dopamina, neurotransmissor que se ativa imediatamente após o estímulo e a recompensa. Há o acontecimento de um processo cognitivo complexo e a neuroplasticidade, adaptação do sistema nervoso às diferentes exigências internas e externas para continuar sobrevivendo, acontece intensamente. O aprendente cria memória, aprender ‘a saber’ e sabe!

Do que estamos falando? A experiência de expressão de si para o outro ‘fora da caixa’. Estamos falando da possibilidade de experiências (projetos) fora do padrão. Estamos falando de cérebro necessitando de estímulos diferentes para também pensar diferente. Estamos falando em inaugurar criatividades. E Paulo Barros pode nos ajudar. Para começar a discussão, vamos entender o que seja essa tal ‘criatividade’.

Criatividade (do latim = creatio = criação) é a capacidade de pensar produtivamente à revelia de regras; e é criar coisas novas combinando de maneira inusitada o saber já disponível. Todos nós estamos à procura de uma ideia luminosa. Segundo Kraft (2004, p.46), “desde a invenção do fogo, da roda e da imprensa, até a penicilina e a fissão nuclear – nosso desenvolvimento evolutivo só foi possível graças a um fluxo inesgotável de lampejos criativos do intelecto. E onde tem origem todas essas ideias? No cérebro!” È um processo psíquico, mas além de inédita, a presença da criatividade precisa ser útil e adequada aos estímulos (atividades, projetos) propostos: prática de ensino é fonte do conhecimento de longa duração, e não engodos ou passatempos.

Mas tudo é promessa, parte de uma promessa, cujos aliados devem ser o DESEJO, o FOCO, a ATENÇÃO e a PRÁTICA. Nesse nosso mundo ‘diferente’, a criatividade só surge se incentivarmos ou tivermos mentes abertas, pouca autocensura (controle da cognição) e calma. Vamos acalmar o nosso córtex pré-frontal e criar pequenos desligamentos, por exemplo, das regras / certezas / aprendizados / egos / práticas de sucesso. Vamos ESCUTAR os outros e nos sensibilizar realmente. A criatividade precisa de atenção desfocada: é pensar além do próprio umbigo. Fuga do mesmo. Mais ondas alfa no córtex pré-frontal, típicas da vigília relaxada. Então, um lembrete: em geral, a criatividade, não sabe trabalhar com pressão.

Não nos enganemos, em nenhuma profissão, nada deve ser encarado como um dom de realizar ações magníficas e de sucesso. Não somos Midas em tempo integral! Aprender a fazer é fazer racional e não apenas enlouquecer o imaginário ou o futuro em prol da moda INOVAÇÃO. Segundo Barros (2013), prestem atenção, SEGUNDO Paulo Barros, “show de estratégia e criação dependem muito de trabalho, comprometimento, sorte e [ai sim] criatividade. É fazer a diferença apesar de tudo, mas com responsabilidade, escuta e compartilhamento. É procurar soluções para o que então parecia impossível. Enfim, o que prende a atenção não são os protocolos pré-estabelecidos, mais sim os encantamentos.”

Fato: nem só de teorias vive a educação. Educar é uma questão de humanizações constantes ao bem estar e à convivência de qualidade em sociedade. Não há passe de mágica! Soluções inovadoras se realizam a partir do conhecimento e aprendizado, de tentativas e acúmulo de experiência em muitos contextos. Há limitações técnicas para a execução do trabalho? Há sim. Mas também deve haver o desejo sincero de superá-las. ‘Talvez não encontremos respostas, mas é bem provável que encontremos novas perguntas. E podem tirar o cavalinho da chuva porque, com essas, nós teremos que nos virar’, [ou seja,] provocar o imprevisível, o imponderável e o inesperado’ é o que deveria mover os diferentes docentes na atualidade. (BARROS, 2013, p.45)

Temos que ter, como docentes, mais descontração e distância do que nos causa estresse e/ou ansiedade. Estamos dentro do processo de discernimento, ponderação, equilíbrio convergente de pensamento e emoções. Em um momento qualquer, novas associações irrompem e o espírito criativo finalmente recebe a tão esperada recompensa: a iluminação, o conhecimento intuitivo, (BARROS, 2013, p.51) a criatividade de pensamento. Ou como afirma Paulo Barros, em um momento qualquer, devemos trocar de lugar com o outro e “buscar descobrir como ele vai se sentir, interagir, estimulando sensações que já fazem parte do cotidiano das pessoas [que] podem surpreendê-las porque se manifestam onde menos se espera”. (2013, p.55).

Mas a falta de inventividade não é aliviada. Alguns chamam de ‘preguiça mental’; outros, de displicência, indiferença, desmotivação. Uma pena! A criatividade não é um dom dos deuses, ela precisa ser estimulada e, muitas vezes, treinada. “É preciso criar condições básicas necessárias para se aproveitar ao máximo o potencial criativo de cada um, bastando para isso, mudanças na postura e nas condições circundantes que se oferecem. E o que está em questão, de início, são coisas aparentemente muito simples: curiosidade, vontade de surpreender-se, a coragem de derrubar certas muralhas intelectuais e a confiança em ser capaz” ( KRAFT, 2004, p.46). É preciso se automotivar para ‘por a mão na massa’ e, de novo, interferir e provocar os processos de mudanças.

Nesta perspectiva, será que o imponderável é eliminado? Não! “Tem coisas que você não espera e acontecem e outras que você espera e não acontecem” (BARROS, 2013). Logo, “propor mudanças é saber enfrentar normas estabelecidas que muitas vezes limitam o seu trabalho. É preciso conhecer as regras e usar os instrumentos do passado para construir um futuro diferentes. Essa é a maior dificuldade. Uma solução diferenciada que não (fira) o regulamento, mas contorna o obstáculo imposto a ele. (p.71)

Projetos inovadores devem causar memórias de longo prazo: nunca esquecimento! “Não se conta a verdadeira história do homem só com poesia e prazer. As cicatrizes da alma são a melhor forma de proteção contra novas feridas” (BARROS, 2013, p.57). É preciso enxergar e não somente ver: este é um condicionamento para autoconhecimento e mudança da direção do olhar, e assim desvenda-se a mágica do saber viver e do saber fazer.

Segundo Barros (2013), “o mais difícil é desligar o piloto automático de quem faz a mesma coisa há anos. Eu dependo de outras pessoas e os projetos muito diferentes esbarram em dificuldades. Eu dependo de que cada um cumpra bem o seu papel.” (p.80). E, na escola, o processo de mudança é uma luta constante. As pessoas insistem num padrão por comodismo. O padrão constrói o conforto. E o conforto engessa, estatiza. Difícil remexer nesta lagoa e abrir caminho ao mar. “Qualquer processo mais elaborado, tecnicamente pensado, muda a execução. Logo muda-se a forma de construção” (p.81). São criadas novas situações e se torna necessário dar mais elasticidade e mobilidade a esse invólucro. Difícil mudar o costume do pensamento estático (padrão) e dar movimento, outros movimentos ao fazer pedagógico, levando em consideração os novos contextos, as novas formas de pensar e as novas relações. Difícil superar o ‘tá bom assim’, ou o ‘sempre funcionou assim’, ou o ainda ‘não liga, vai funcionar de qualquer jeito’ (p.81): eis o princípio do COMO com que iniciei o texto.

Como o pensamento e a ação criativos exigem trabalho e rotina, o docente deve iluminar pontos do seu conteúdo de diferentes ângulos conhecidos e desconhecidos. Soluções novas surgem da reordenação de ideias, noções e intuições existentes, como peças de um jogo de montar. É o aprender fazendo. É experimentar outros ‘COMOs’ de forma a cotejar potencialidades silenciosas / silenciadas. Portanto, COMO fazer? Siga algumas dicas para o pensamento criativo:

Descobrir e espantar-se com a rotina;
Aceitar e acreditar em momentos de inspiração;
Admirar-se com as diferenças, principalmente de pensamento;
Ter coragem e liberdade de pensamento;
Saber investigar;
Reservar tempo para sonhar acordado;
Ser curioso;
Oportunizar momento de relaxamento;
Fortalecer a percepção;
Descrever sensações e objetos de maneira incomum;
Entusiasmar-se com as mudanças;
Mudar as formas de ver e utilizar os objetos / os sentimentos;
Ler o mundo de maneira positiva;
Executar tarefas em ordem não convencional;
Entender suas motivações;
Tentar se desligar de problemas / tensões;
Distrair-se


Profª. Claudia Nunes

Referências:
BARROS, Paulo. Sem Segredo: estratégia, inovação e criatividade. Rio de Janeiro: Casa da palavra, 2013.
CHRYSIKOU, Evangelia G. Mente criativa em ação (p.30-39) In. Criatividade: é possível exercitar a capacidade de ter boas ideias e encontrar soluções com mais facilidade. Editora duetto: Revista Mente & Cérebro, ano XIX, nº 235, agosto 2012.
KRAFT, Ulrich. Em busca do gênio da lâmpada (p.44-51). In. Inteligência e Criatividade. Editora Duetto: Revista Mente & Cérebro, ano XIII, nº 142, novembro de 2004.


sábado, 11 de abril de 2015

O Fim


Selo de Autenticidade


Entre GUERRA e PAZ


O som dos AMIGOS


Próprio amor Próprio


DOR e DORES


Uma alternativa MEDITAÇÃO

O tempo está diferente. Nossa dimensão de realidade está acelerada. A sensação de rápida fluidez dos dias é crescente: essa é a experiência consensual em que vivemos nós, a sociedade contemporânea. Com isso, nossa maturidade biopsicológica, ou surge antes do tempo e há inconsequências assustadoras (na faixa etária), ou se estabelece como superficial, apesar do tempo, e há tensões incompreensíveis (para faixa etária também). Crianças, jovens, adultos e idosos são moléculas soltas no vento das mudanças destemperadas dos dias / do cotidiano atual. E precisamos nos atender, nos pensar, urgentemente.
Na loucura desse tempo, os conceitos de aprendizagem, de colaboração e de maturidade, por exemplo, parecem não ter convergência natural no tempo e isto torna o próprio tempo um grande e elástico tempo de experiência sem tempo de aprofundamento. Nós continuamos crescendo, mas criar duradouras ‘colas’ sociais e profissionais tornou-se bem difícil. Como disse Caetano Veloso, ‘tempo, tempo, tempo’, eis o nosso maior infortúnio e ponto de insegurança: e não há tempo para nada e nem para ninguém.
Em torno deste fio desequilibrante recorre-se a religações divinas ou energéticas: para o tal ‘pé no chão’ incluímos, outra vez, um percurso e uma aceitação religiosa. Nós nos voltamos para um ‘religare’ em que reprogramamos cautelosamente cérebro, mente e corpo. Há uma recordação intensa das mitologias e dos rituais mais antigos: se não há tempo, há estranhamentos e, logo, o desejo de explicações e harmonias de outros tempos. A vida, no mundo, é uma sequencia de ocupações mentais tornando o cérebro, um profissional dos recondicionamentos mnemônicos e afetivos. Ainda amamos viver!
Não há aqui descartes ou desacatos às necessidades e emoções de cada um; há um levantamento real de que cada vez mais pessoas se investem em técnicas / tecnologias alternativas para o reencontro com elas mesmas envolvendo-se com a perspectiva da presença / existência de outras dimensões de realidade ou de processos de reorganização da chamada ‘paz interior’. O inconsciente coletivo entra em efusão de saberes ao toque ritmado das amígdalas, ínsulas e glândula pituitária: surge uma sensação de equilíbrio, paciência e grandes energias positivas.
Segundo a revista Scientific American Brasil (Dez, 2014), intitulada ‘A Neurociência da Meditação’, “a difusão do radio, depois da televisão, mesmo a influência do cinema e, recentemente, da internet, que forjou um novo padrão de comunicação em escala global, preencheram com conteúdos um tempo que, antes disso, era dominado pelos ciclos da Natureza: o nascer e o pôr do sol, além das estações do ano”. Ou seja, nós, eternos ‘aprendizes de feiticeiros’, nos ocupamos com mais atividades / trabalhos e perdemos o ‘junto’, o ‘olhar’, o ‘escutar’, principalmente, de nossos corpos e necessidades com o outro e conosco. Parece que estamos em areia movediça da razão, mas com relógios biológicos plenamente ativos e eletromagnéticos: a questão da gravidade está em torno de tudo e nos força a dificultar quaisquer movimentos a divagação interior. Nós trabalhamos tempo demais!
Mesmo assim, de forma crescente, as pessoas vêm procurando espaços / momentos de contemplação de si mesmas, suas idiossincrasias e seus objetivos de vida; e uma das técnicas mais requisitadas / revisitadas tem sido a MEDITAÇÃO. Estamos, de novo, favorecendo o cérebro humano a realizar sua neuroplasticidade com outras origens, agora em colaboração com a neuroquímica da necessidade e do desejo de ser feliz ou de se envolver com a paz interior, através de uma prática emocional alternativa. Ênfase no jorro de neurotransmissores como a serotonina (humor), a dopamina (prazer), a noradrenalina (concentração) e a acetilcolina (aprendizado). Em jogo, hoje, portanto, uma certeza: o aceleramento do tempo trouxe não só a certeza da obsolescência, mas também a possibilidade de resiliência, em meio a comportamentos contrários ao esperado: silenciar, respirar, pensar e se equilibrar corporal e emocionalmente. Através da meditação, há uma contemplação de si dentro de si e para si, criando estados positivos internos, com um gosto positivo de satisfação.
A opção pela meditação é uma estratégia de se conquistar, por ferramentas inatas, bem estar e tranquilidade. E tudo isso, com o propósito de se manter uma convivência no ‘novo’ mundo, com o ‘novo’ tempo e com poucas tensões. De acordo com RICARD (2014, p.32)[i] e RICCIARDI (2015)[ii], existem três formas comuns de meditação:
- a atenção focada (ou concentração) que visa acalmar e centrar a mente no momento presente, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a capacidade de permanecer vigilante para distrações; é a concentração à inspiração e expiração para sensações positivas; e tem foco nas áreas cerebrais responsáveis pela atenção, como córtex pré-frontal, córtex parietal superior, giro fusiforme e substância reticular ativadora ascendente (SARA), em ambos os hemisférios;
- a atenção plena (ou meditação de monitoramento aberto) que procura cultivar a consciência emotiva menos reativa a emoções, pensamentos e sensações que ocorrem no presente para impedir que eles espiralem e fujam ao controle, criando sofrimento mental; há desligamento dos estímulos visuais, sonoros ou outras sensações, sem se deixar levar por eles; é uma forma benéfica à ansiedade, à autorresponsabilização, à auto-observação antes de pensar e agir, e aos sintomas da depressão, uma vez que diminui a atividade cerebral nas regiões do córtex insular e amígdala; há menos suscetibilidade aos efeitos negativos da dor e, por consequência melhora do sono e do humor;
- a compaixão (e bondade amorosa) que promove uma perspectiva altruísta em relação aos outros; amor incondicional, aos próximos ou não, amigos ou inimigos; é preciso o desejo sincero de ajudar, não só a si próprio, mas a todas as pessoas que encontrar; relação forte com a empatia, e não é fácil mantê-la, mas é necessário; aqui estão ativados os córtex somatossensorial e o insular pelo sofrimento alheio, sem tirar o equilíbrio emocional; é a real condição de se fornecer incentivos positivos a si e a outrem.
Estas três formas, hoje, são amplamente praticadas em vários setores da sociedade e ao redor do mundo. E estas vêm provocando mudanças fisiológicas no sistema cerebral cujos resultados são reações mais rápidas aos estímulos em geral e menos propensão a várias formas de estresse. Há um convite sendo refeito para se reencontrar ferramentas que possam proporcionar ao ser vivo humano benefícios cognitivos e emocionais que o façam permanecer vivendo e convivendo, mesmo com a velocidade do tempo.
Sendo assim, há uma necessidade de se treinar a mente, a partir do reconhecimento das próprias potencialidades, mesmo que, para isso, seja preciso atravessar o ‘vale da sombra da morte’ das memórias mais inconscientes e tóxicas. Paz, tranquilidade e equilíbrio se alcançam quando transformamos nosso cérebro através da experiência de (se) CONHECER e de SER um ser vivo humano ‘na real’ e no tempo certo: aqui está a realeza de nossa humanidade. Há uma regulação dos estados mentais para se alcançar uma forma de enriquecimento interior, uma experiência que afete o funcionamento e a estrutura física do cérebro (p.30). E cérebro, mente e corpo tem efeitos convergentes, efeitos que colaboram entre si e que tornam a luta pela sobrevivência emocional mais saudável e focada: é a serenidade no caos.


Nós precisamos parar! Nós precisamos nos introjetar! Nós precisamos nos manter atentos ainda que por dentro de uma proposta divagante ou distraída das preocupações, responsabilidades e tensões mundanas. Boa parte do processo de meditar inclui uma varredura nas memórias de longa duração, já que estas refletem nossas certezas, visões de mundo e formas de agir. É sair do âmbito do córtex pré-frontal e realinhar as infovias neuronais aos nossos sistemas mais interiores e emocionantes, criando aspectos positivos dentro e fora do corpo e da alma humana.
Amígdala, hipocampo, lobo parietal e temporal, ínsula anterior e córtex cingulado detém o poder de envolver conjuntos de neurônios a outras atividades mais subjetivas, como divagação mental, atualização de modelos internos, regulação de sensações percebidas e libertação da atenção de quaisquer estímulos distrativos. Logo, mesmo se iniciante, todos sabem que o ponto nevrálgico de quaisquer tipos ou aspectos da meditação é a RESPIRAÇÃO. Vamos respirar e nos renovar! Vamos expandir o fluxo da consciência e ganhar flexibilidade atitudinal real! Vamos ser pessoas melhores, melhorando nossa experiência conosco, por princípio.
Uma amiga cantora sempre lembra que a palavra ‘compaixão’ é fundamental para o século XXI e, de acordo com Ricard (2014), ao respirar, é preciso ter consciência também das necessidades de outras pessoas e experimentar “um desejo sincero e compassivo de ajudá-la ou aliviar o sofrimento dos outros ao protegê-los de seus próprios comportamentos destrutivos”. Entende-se que o cérebro em compaixão diminui o risco de esgotamento emocional e de ações impulsivas. Os córtices somatossensorial secundário e insular (responsáveis pelas reações empáticas dentre outras respostas emocionais) são ativados: é uma ansiedade mais organizada e coerente, além de se instituir tempo para reflexões pertinentes.
O cérebro é ‘fiel escudeiro’, afirma a Profª. Marta Relvas, mas não tem receita e nem bula. Ele é nosso maior aprendente e, de acordo com nossas necessidades e práticas, pode construir redes provisórias que “integrem as funções cognitivas e afetivas durante o aprendizado e a percepção consciente, processo que pode resultar em mudanças duradouras em circuitos cerebrais” (p.35).
Seja bem vinda meditação, precisamos de alicerces como você!

Profa. Claudia Nunes





[i] RICARD, Matthieu; LUTZ, Antoine e DAVIDSON, Richard J. A mente (burilada) do meditador (p.28-35). Revista Scientific American BRASIL, Editora Duetto, ano 13, nº 151, dez, 2014.
[ii] RICCIARDI, Marcelo. Mente Brilhante (p. 06-07). Revista O Poder da Meditação, Editora Alto Astral, ano 1 nº 01, 2015.

Um mundo da CONECTIVIDADE

A questão da conectividade não é mais novidade pra ninguém. Segundo Spyer (2007), atualmente devemos nos perguntar: a internet é um destino ou um desafio? Então para começar, vamos pensar: o cérebro foi preparado para isso? Ou melhor: fomos preparados para tantas mudanças que nós mesmos construímos? Hoje estamos todos com todos em tempo real: isso é um problema ou uma solução?
A rede tornou-se o todo (nossa realidade) e o todo está revestido de pontos em que podemos nos qualificar e nos quantificar (aprender) junto a e com os outros de acordo com os interesses, sonhos e desejos. Pensa-se em grupo. Estamos todos juntos e misturados tendo de sobreviver dia a dia. É uma sobrevivência junto às diferenças de atitude, de linguagem e de sensibilidade; e, mesmo assim, seguimos criando redes sociais bem interessantes: nada poderia ser melhor. Todavia, sempre um alerta: devemos nos conectar com moderação.
Nossa principal tecnologia, o cérebro, precisa das distrações, dos devaneios, dos tipos de relaxamento e/ou de pontuais mudanças de foco; precisa aprender a curtir, compartilhar e colaborar; precisa tanto de hábitos quanto de mudança de hábitos para se manter saudável. Uma lembrança: nada permanece em nossa memória se não for praticado; se não tiver funcionalidade; se não entrar na ‘vibe’ do uso contínuo (rotina). Entretanto, é preciso mudar ou, ao menos, estimular mudanças de maneira a que se projetem comportamentos mais ‘antenados’, criativos ou ‘safos’ no cotidiano. Sem isso, o cérebro cansa, falha e, aí, ocorrem os estranhamentos, os esquecimentos, as mudanças de comportamento e as tristezas inexplicáveis.
A velocidade das tecnologias artificiais vem sensibilizando o cérebro a plasticidades neuronais cada vez mais rápidas e menos diferentes; e são os diferentes ou as diferenças que saúdam a formação contínua da memória de longa duração e qualificam nosso poder de resiliência. Quando observamos nossos jovens, por exemplo, vemos uma geração ‘touch’ em busca de outros toques e ‘times’ que solucionem a própria vida e suas futuras decisões, com rapidez. Eles são a geração ‘tudo ao mesmo tempo agora’.
Seu desenvolvimento tem normalidade apenas no quesito faixa etária. As questões cognitivas, emocionais e físicas estão em ebulição e em convergência acelerada, alterando sua formação neurobiológica e física; e, em alguns casos, proporcionando saltos maturacionais surpreendentes, frutos da vivência de experiências emocionais e sociais que intensificam as ações do sistema límbico (emoções) e antecipam as ações do córtex pré-frontal (pensamento, raciocínio): estamos no âmbito da impulsividade e da reatividade.
O cérebro é fiel escudeiro, como afirma a Profª. Marta Relvas, e, por isso, reflete no corpo e na mente, quando necessita de novas performances ou quando é usado exageradamente. Daí, eu percebi o seguinte: o problema não é a conectividade, e sim a intensidade da conectividade. Nós perdemos a noção do tempo imersos em outra dimensão (mundo virtual). Nós oferecemos ao cérebro o prazer necessário à criação das necessidades, da euforia, da liberdade e, basicamente, de escapismo social. Nas nuvens, os jovens estão sem amarras, conectados, funcionais e se comunicando aleatoriamente e de maneira assíncrona. Para cada aplicativo descoberto e acessado, mais curiosidade, criatividade, prazer e aprendizagem. Então, se devemos pensar em um ‘problema’: estamos diante da real negação do mundo em favor do prazer de viver e agir noutro mundo em que ON e OFF são escolhas muito pessoais e simples. Poder nas mãos? Não! Poder nos dedos!
Diante da vida conectada e nas nuvens, intensifica-se o uso do sistema de recompensa (área tegmentar ventral e núcleo accubems). Há mudanças no sistema nervoso; alterações nas formas de seleção e adaptação das informações; mais dopamina e serotonina no corpo. Estes últimos, chamados de ‘neurotransmissores’, são responsáveis pela comunicação entre neurônios e geram satisfação, bem estar e prazer em cascata, às vezes incontrolável. E se temos reforço positivo repetidas vezes, somos impelidos a buscá-las em grande quantidade.


Em busca de mais prazer, a conectividade ou a permanência em conexão (imersão) constrói dependências: nossos jovens já nascem dependentes de uma tecnologia artificial, hipertextual e planetária. E toda dependência sugere perda da capacidade de se equilibrar responsabilidade com fantasias: muito difícil ser adulto assim... Alias não há equilíbrio e nem controle. É a representação do momento em que, para manter-se conectado, provoca-se uma desconexão de pensamento e raciocínio (córtex pré-frontal): o que se deseja é a continuidade do prazer.
Como tudo é prazeroso, por que parar? Eis o problema, por exemplo, quando falamos de jovens nativos digitais, do uso do celular e sua crescente análise como extensão do corpo humano e transformação em necessidade básica. O celular tornou o nosso prazer maior algo febril e real: o prazer da comunicação. Naturalizamos a permanência do celular ligado em todos os nossos contextos de vida porque naturalizada está a permanente vontade (e prazer) de se comunicar todos com todos, hoje, a qualquer hora e em qualquer lugar.
Neste sentido, a questão da conectividade de todos com todos é real, mas demanda mudanças nas próprias conexões; tem tempo limitado ou limite de tempo; atravessa nossa necessidade absurda de comunicação; ofereceu-se à construção de um mundo nas nuvens, algo parecido com o ‘país das maravilhas’ cuja ‘alice’ somos nós mesmos e nossa complexidade triádica: física, cognitiva e emocional; precisa ser repensada quanto a sua instantaneidade já que as redes sociais, além da comunicação, prescindem de reflexão, tempo, silêncios e até ignorâncias (no sentido de ignorar, descartar); e investe, por exemplo, na disponibilidade de tempo de ‘estar com’ de todos com todos em tempos diferentes; além da afinidade de interesses, principalmente, quando o olhar precisa pinçar a atenção do jovem-aprendente.
Nossos jovens e nós somos um corpo com vários hologramas corporais na palma das mãos e na ponta dos dedos. Em favor de ‘mais prazer’, nós ultrapassamos o sentido da cooperação, de acordo com Spyer (2007), de natureza estática, e nos firmamos no sentido da colaboração, um processo dinâmico cuja meta é chegar a um resultado novo a partir de competências diferenciadas dos indivíduos ou grupos envolvidos (2007, p.23): e tudo, sempre, por / com prazer voraz. E o jovem correndo na frente do seu prejuízo.
Essa conectividade reorganizou a neuroplasticidade e, principalmente, a neuroquímica da neuroplasticidade. Nós e os jovens estamos preenchendo nossa necessidade de interação e de ‘estar com’. Nós e os jovens estamos amenizando nosso sentimento de solidão / de complementação emocional, mental e física. Telefones caseiros, celulares, notebooks e internet: construímos um mundo artificial, o humanizamos e ampliamos nosso poder de ‘estar com’. Mas a que preço?
Com o cérebro em conectividade intensiva, duas ações estão em andamento, porém ainda não definimos se para o bem ou para o mal: SELEÇÃO e ADAPTAÇÃO. Esqueçamos os mundos ideais, sempre conviveremos em meio a multiplicidade de mundos reais, ainda que apenas possíveis: aqueles observados de acordo com nossas imersões iniciais (primeira infância), e estas orquestrando a fundação de nossas crenças, formas de agir, certezas, éticas, escrúpulos e emoções; e estas ainda dialogando como ratificadoras ou retificadoras das crenças, formas de agir, certezas, éticas, escrúpulos e emoções alheias.
Navegar na realidade não pode incorrer no medo das tormentas: estas fortalecem as formas de agir, sentir e pensar; dão consistência à bainha de mielina, à memória e à rota das informações; e apontam para outras dimensões de ‘só-ser’ e de ‘ser-com’ tão exigidos pela vida em sociedade.
Hoje é muito difícil ter uma definição limite entre o mundo on-line e off-line; por isso, atenção ao julgar os mais jovens: guardadas as devidas proporções de tempo e tecnologias, eles ‘são’ nós ontem; eles são eles hoje; e de alguma maneira, precisamos ser nós mesmos para um futuro melhor. Como diz um personagem do filme ‘Caminhos da Floresta’:
- Cuidado com o que deseja... Cuidado com as crianças... Cuidado com a imaginação das crianças... Seu cérebro pode acreditar, gostar e depender disso para sempre.


Profª. Claudia Nunes

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...