quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um certo ABRAÇO

Em que medida nós nos abrimos às mudanças? Na medida em que nós nos surpreendemos com nossas próprias ações ou na medida em que os acontecimentos nos atingem sem direito a defesa. Sem pensar nos oferecemos ao mundo dos sentidos e das reações com medo, mas com grande prazer. Pensar é algo para depois. Além e aquém do momento presente nada mais existe porque é um evento sempre marcante. O tempo se altera e predomina a estranha sensação de ‘ser para sempre’. O mundo das possibilidades de sentir se expande e nos sentimos emocionantes. Assim Gina estava. Depois de tantos anos cuidando dos outros, sustentando os outros, trabalhando para os outros, vivendo incógnita de si mesmo, ela foi pega numa armadilha: a sedução. Um forte abraço fez seu corpo tremer tanto que se sentiu mal. Por que mal? Porque ela perdera a permissão de sentir simplesmente e sem controle as emoções de todos os dias. Ela tinha um corpo domado, ainda que a mente nem tanto. Então por que a desconcentração? Por que pensamentos impróprios em momentos impróprios com tão grande satisfação? Por que sonhos quentes e animados enquanto estudava intensamente seu valor profissional? Fôra um abraço! Apenas um abraço! Em torno de si diferentes projeções sem propósitos, mas maravilhosas. Primeiras defesas: não aprendi isso... não aprendi assim... preciso me restituir. Ao voltar à sua mesa de escritório, uma questão: que lugar era aquele? No corredor, na volta ao trabalho, seu ‘eu’ se perdeu. Diante de uma mesa cheia de quinquilharias, um ser em desejo e sufocado pela vontade de gargalhar. Relatórios, relatórios e relatórios precisavam de acertos e revisões, mas sua figura estava encantada. ‘Que dia lindo! Eu quero novos abraços!’ – comenta a si mesma. A noite se aprofunda lá fora de repente. A luz se intensifica por dentro sem entraves. Difícil aceitar que nada será como antes. Difícil aceitar que nada existia antes. Gina se reconhece como espectro, um avatar de si mesma. Anos se liquefazendo em certezas e agora esse abraço tão inoportuno de um arcanjo sem luxos. No ônibus, de volta para casa, um choro compulsivo. ‘Como dar conta da vida agora? É muita coisa dentro dela’ – orava. ‘Deus, não me faça aprender a descartar!’ A sombra que vislumbrava na janela do ônibus lhe sorri: estava enamorada. Só teria consistência para viver a vida depois de novos abraços cuja comunicação lhe fornecesse mais generosidade e alegria. Ela não estava imunologicamente protegida quanto a magia do abraço intenso. Gina estava ‘tomada’ por uma nova onda química que transformava gradativamente informações de vida inteira em pequenos dados que a ‘(re)jogariam’ na realidade. Em casa, entra em frenesi e procura: preocupações, responsabilidades, deveres, medos, certezas... A vegetação caseira estava vazia. E Gina, já sem pele, se entrega ao novo sulco de prazer com a vida.


Profa Claudia Nunes

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Mundo de sentidos camaleônicos

ENFIM VOLTEI! TEMPOS DE MUITO TRABALHO, MAS VOLTEI!!! RSRS

Quando nos distraímos de nossas rotinas, encantamos nossos pensamentos com o que há de melhor dos outros. Nós nos tornamos lúcidos de outras emoções e aceitamos a clareza da vida vivendo mais intensamente. Essa distração surge na troca de olhar, num abraço apertado, numa conversa varando a madrugada ou num susto vivido. Ai está a oportunidade: somos o que somos + um ou uns. Saímos de uma prisão cômoda para desequilibrar os pés. O que acontece então? Escolhemos. Mas o que se faz com o que se fez sempre? O que se faz com pensamentos tão conhecidos? O que se faz com comportamentos sempre alinhados? Nada. Simplesmente nada. Diante do encantamento, o mundo correto se perde por cavernas desconhecidas cuja bussola são nossos próprios sentidos, logo e, em princípio, não há permissão de controlar recônditas luxúrias. O sonho e o imaginário pulsam o coração porque se tornam possíveis de hora pra outra. Errado agora é desviar-se do caminho, é negar o ponto de contato ou é fingir que nada acontece. Nessa hora um número infinito de rostos amplia a vontade e a potencia da realidade: ‘é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte’. Somos mais do que somos. E somos enamorados, fascinados, encantados por tudo o que fizer bem ao corpo. Se o mundo mudou, vive-lo é a lógica: sem escapatória! É uma aposta no escuro das esquinas do coração cuja maior função é nos fazer criar coragem e encarar o espelho. Esta sou eu? É, e agora? Como dar conta dos arrepios de mil emoções ao toque, ao beijo, ao sorriso de outro eu? Sentir... A solução é sentir na ponta da unha do pé ou no fio do cabelo que ser o que se é não basta mais. Precisamos resgatar outras identidades mais livres, afoitas e sinceras. Muitos estão em suas segundas ou terceiras chances de amar como uma ‘maldição’ porque nada contém o desejo de experimentar o rosto de alguém sem coletes à prova dos sentimentos. Neste caso, ao acordar, a manha é outra. O caminho ao trabalho é outro. Tudo está multicolorido e querendo carinho mais intenso. E por mais que se desconfie ou amedronte, adoramos tudo e todos. Vez por outra, pinçamos defesas absurdas para julgar nossas felicidades. Por que? Medo! É muito medo! Em certo tempo da vida, relembramos nossas perdas, repressões e até ilusões, então, nos perguntamos: para que tanta alegria? Ou tanta felicidade? Como assim tantos sorrisos? Nesta hora, somos menos do que somos porque nem acreditamos no que somos. É o momento de nosso próprio apagamento. Passamos um corretivo na vibração conquistadora com as desculpas mais esfarrapadas e investimos na recolocação pessoal de todos os envolvidos. Difícil, muito difícil amar, seduzir, emocionar as peles e conquistar a si e ao Outro sendo intolerante com o tempo, a formação as experiências de todo sempre, amém. O que ser agora então? Quando promover a liberdade? Quando descansar dos limites? Não sei... Mas os mergulhos são independentes de nossa vontade e nos exigem repentinamente. Eles nos afundam, nos despem, nos expõem, embora não interrompam o contato amoroso depois do seu acontecimento. Respirar torna-se tenso e denso, ainda que a vida seja leve e fácil. Nessa hora, não adianta apurar os ouvidos, é preciso fechar os olhos e guiar o corpo a uma franqueza absoluta em mil faces.

Profa. Claudia Nunes

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...