sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ACREDITAR NO NATAL

"Acreditar em Papai Noel, em anjos, em famílias amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando".

Acreditei em Papai Noel por muitos anos. Menina do interior com a fantasia sempre a mil, ele fazia parte das minhas histórias encantadas. Até uns 7 anos de idade, eu também acreditava na cegonha e no coelho da Páscoa. Quando o pôr-do-sol tingia o céu, diziam-me que os anjinhos começavam a assar aqueles biscoitos de Natal que se faziam em todas as casas da pequena cidade. Trovoadas de começo de verão eram São Pedro arrastando os móveis para a fábrica de brinquedos ter mais espaço.

Na antevéspera de Natal, um recanto da sala era ocultado por lençóis estendidos, e ali atrás ocorria o milagre: na noite de 24, com o coração saltando de ansiedade, a gente escutava sininhos como que de prata: era hora. Levada pela mão da mãe ou do pai, eu entrava na sala, de onde os lençóis tinham sido removidos, e lá estava ela: a árvore de Natal, toda luz de velas, toda cor de esferas, e embaixo os presentes. Muitíssimo menos dos que se dão hoje às crianças, mas havia presentes. Cantávamos canções natalinas, todo mundo se abraçava, depois abríamos os pacotes e comíamos a ceia. No dia seguinte, chegavam tios, primos, alguns amigos. Era só isso, sem alarde, mas com emoção. Guardei a sensação de que Natal é fraternidade, é reconciliação, é alegria de estar junto, é a chegada de pessoas queridas, é o tempo da família. Para quem não a tem, é o tempo dos amores especiais. Não éramos particularmente religiosos, mas uma de minhas avós, luterana convicta, na manhã seguinte me levava à igrejinha, onde eu gostava de cantar. Algo de muito bom se comemorava nesse tempo, o nascimento de Cristo e a esperança dos povos. Nem tudo seria guerra e perseguição, pobreza, crueldade, injustiça.

As pessoas se queixam muito de que o Natal hoje é só comércio. Depende de quem o comemora. Se me endivido por todo o próximo ano comprando presentes além de minhas possibilidades, pois no fundo acho que assim compro amor, estou transformando o meu Natal num comércio, e dos ruins. Se entro nesses dias frustrado porque não pude comprar (ou trocar) carro, televisão, geladeira, estou fazendo um péssimo negócio para minha alma. E, se não consigo nem pensar em receber aquela sogra sempre crítica, aquele cunhado cínico, aquele sobrinho malcriado, abraçar o detestado chefe ou sorrir para o colega que invejo, estou transformando meu Natal num momento amargo. Então, depende de nós. Claro que há as tragédias, as fatalidades, doença, morte, desemprego, alguma maldade – essas não faltam por aí. Um avô meu morreu de doença muito dolorosa, na véspera de Natal. Foi a primeira vez que vi um adulto, minha avó, chorando. Há poucos anos, minha mãe morreu na antevéspera de Natal, depois de longuíssimo tempo de uma enfermidade maldita. Mas foram também ocasiões de conforto e consolo, abraço, amor e entendimento.

Na medida em que não se podem dar muitos e caríssimos presentes, talvez até se apreciem mais coisas delicadas como a ceia, o brinde, o carinho, os votos, a reunião da família, o contato emotivo com os amigos, mensagens pelo correio ou e-mail, música menos barulhenta e aroma de velas acesas. Mais que tudo isso, o perfume de uma esperança ainda que realista. A crise nas finanças pode incrementar a valorização dos afetos. Se não pudermos viajar, curtiremos mais nossa casa. Se não há como trocar velhos objetos, vamos cuidar mais dos que temos. Se não podemos comprar o primeiro carro, vamos olhar melhor nossos companheiros no metrô. Vamos curtir mais nossos ganhos em afeto.

Não é preciso ser original para escrever sobre o Natal. A gente só quer que ele seja tranqüilo e gostoso, e que nos faça acreditar: em Papai Noel, em anjos, em famílias amorosas ou amigos fiéis, em governantes mais justos e líderes mais capazes, em um povo mais respeitado – em alguma coisa a gente acaba sempre acreditando. Porque, afinal de contas, é a ocasião de ser menos amargo, menos crítico, menos lamurioso e mais aberto ao sinal deste momento singular, que tanto falta no mundo: a possível alegria, e o necessário amor.

Lya Luft é escritora

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sufoco no busão? Culpa da amígdala cerebral!!!

Esqueça as fantasias da Dama do Lotação. Para a maioria das pessoas, o sufoco do coletivo na hora do rush não é nada agradável. Muito menos conversar com aquele colega que insiste em se aproximar tanto, a tal ponto de você sentir o bafo quente exalando da garganta.

Você anda pra trás, motivado por uma espécie de repulsa. Ele então anda pra frente, reconstituindo a distância original. A luta pelo espaço pessoal invadido continua até que você se pega encurralado por uma parede.

Existe um espaço, individual, que quando ultrapassado causa um certo desconforto. Em tese, você não briga pelo espaço, mas procura obtê-lo de forma pacífica (entre os animais ditos mais sociais).

Esse comportamento social está sendo associado a uma estrutura cerebral chamada amígdala.

Tradicionalmente, a amígdala foi associada a respostas ao medo. Como o medo é uma das reações mais primitivas entre as espécies, acreditava-se que fosse um centro que estimulasse uma reação impulsiva de escapada quando confrontamos uma situação de perigo iminente. Esses estudos, realizados em sua maioria em animais, eram sempre extrapolados como verdadeiros para humanos. Mas a história não é bem assim.

Num trabalho recente, publicado na revista científica “Nature Neuroscience” (Kennedy e colegas, 2009), os autores relatam o estudo de um indivíduo com um raro dano bilateral na amígdala. Esses casos isolados são extremamente importantes para se estudar a função causal de algumas estruturas cerebrais em pessoas. Obviamente, deve-se tomar cuidado com a interpretação dos resultados, pois sabemos muito pouco sobre a influência da variação individual do cérebro em humanos.

Ao trabalhar com esse indivíduo, os autores descobriram que a amígdala está envolvida na regulação da distância social. A amígdala inicia uma resposta vagarosa, mas explícita, sobre a invasão desse espaço interpessoal. Esses dados contrastam com os resultados obtidos com lesões em modelos animais, que sugeriam uma resposta rápida independente do contexto ambiental.

A maioria das pessoas regula a distância entre elas e os outros baseando-se em sensações de conforto pessoal e sentimentos pessoais. O sentimento de estar espremido no metrô entre desconhecidos causa uma sensação de repulsa e promove o reajuste imediato dessa distância pessoal. Pois bem, numa série de experimentos, desenhados de forma elegante e simples, o grupo mostrou que o indivíduo com o dano bilateral na amígdala não revelou a presença dessa barreira invisível que regula a distância interpessoal e nem reagiu ao ter seu espaço invadido. Esses dados sugerem fortemente que a amígdala é crucial para o sentimento de espaço pessoal.

Nos experimentos, o indivíduo lesado teve de ficar próximo a um desconhecido e classificar as diversas distâncias entre plenamente confortável e extremamente não confortável. O indivíduo preferiu distâncias bem mais curtas do que a média das pessoas sem a lesão. Além disso, classificou como confortável, mesmo estando cara a cara com um estranho. Esse efeito foi consistente em diversas situações experimentais, onde o grau de familiaridade com o estranho, sexo, presença de contato com os olhos, etc., foram variados.

Interessante notar que o indivíduo relatou ter plena consciência dessa distância pessoal e que procurava sempre ajustá-la no dia a dia, baseando-se em princípios sociais. Isso sugere que a lesão não comprometeu funções cognitivas ou racionais – o indivíduo simplesmente não sentia o desconforto nas distâncias em que a maioria das pessoas sentia.

Baseando-se nisso, foi testado o grau de atividade da amígdala em humanos usando-se ferramentas de ressonância magnética. Os dados mostraram claramente que as pessoas tinham a amígdala ativada no momento em que estranhos invadiam o espaço pessoal. Esses experimentos sugerem que, em humanos, a amígdala funciona como um detector da violação do espaço pessoal.

A distância que mantemos entre nós e as pessoas com quem interagimos depende muito do contexto social e da relação prévia entre as pessoas. Isso varia muito entre as diversas culturas humanas. Como essas regras sociais são aprendidas culturalmente, a amígdala tem de se adaptar a respostas específicas que surgem em diferentes contextos durante o desenvolvimento humano. Pode-se então dizer que quanto mais contato com a diversidade humana durante a infância, melhor será sua adaptação e respeito entras diversas culturas.

O que os estudos estão indicando é que a função da amígdala parece ser muito mais importante do que fora anteriormente atribuída. Essa estrutura funcionaria como um “hub” cerebral, conectando diversas redes neuronais envolvidas com o aprendizado social. A socialização seria responsável por fazer um ajuste fino na resposta da amígdala a situações de invasão do espaço pessoal e alheio.

O refinamento desse processo em humanos parece exceder o que acontece em outras espécies com comportamentos sociais. Esse mecanismo cerebral influencia, literalmente, os graus de separação entre nós e o mundo social que nos cerca. Portanto, sinta-se mais humano na próxima vez que entrar num busão lotado.

Alysson Muotri (enviado por Profa. Ms. Claudia Nunes)

FLAPAIXÃO!

Domingo de manha. Fogos de artifício acordam famílias inteiras. Não é feriado, mas é dia de futebol. Hoje é a final do campeonato brasileiro. Final mesmo. Ultima rodada. Times de quatro estados brasileiros têm chance de vencer. Quase todos dependem uns dos outros para chegar à alegria final. Um ano inteiro de trabalho terminará às 17h de um domingo de dezembro. Torcidas imensas concentradas nas televisões e nos estádios com a toda a esperança (e certeza) da conquista. Torcidas imensas azarando seus opositores.


Domingo hora do almoço. Todas as ruas coloridas: verde, azul, vermelho, preto misturados nos tecidos e nos corpos de pessoas de todas as faixas etárias. É dia de festa. É dia de encontros de todos os amigos, mesmo os desconhecidos. É dia de comer e ver TV junto. De todas as maneiras e dia de torcer. Todas as conversar são sobre os jogos e a campanhas dos times. Mulheres, homens e crianças tornam-se fantásticos técnicos de futebol e discutem estratégias; lembram do passado; analisam jogadas; e escalam seus jogadores favoritos. No meio do macarrão, da galinha, e do famoso churrascao com família e/ou amigos, a certeza de que hoje é dia de comemorar, vibrar, rezar e, logicamente sofrer demais, sofrer muito, afinal só UM será o melhor do Brasil.

Domingo 16h30min. A tensão está eletrizante. Olhos não podem se distrair da tela. Mente não pode pensar em mais nada. O momento é de pensamento positivo em prol do time do coração. Estou no Rio de Janeiro. Um Rio de Janeiro completamente coberto de preto e vermelho. Contrariando todas as análises matemáticas e teóricas, o FLAMENGO depende apenas dele para vencer. Sou rubro-negra por completo. Estou extremamente nervosa. É jogo difícil. É jogo de superação mesmo! É jogo de matar ou morrer. Os corações mais experientes já tomaram seu ‘isodil’ e podem assistir. São 35 milhões de pessoas desvairadas, com a vida parada, com a respiração entrecortada, guardando um grito de CAMPEÃO por 17 anos. São 150 milhões de pessoas torcendo contra, torcendo por um tropeço, torcendo por um Maracanã inteiro voltando para casa e chorando. Ainda assim, os jornais estamparão o Flamengo. Campeão ou Vice, de novo como sempre, a capa dos jornais terá o tal do Flamengo com assunto.

De todas as ruas, de todos os bairros, de todas as cidades e de todos os estados, milhares de pessoas se dirigem ao Maracanã. Ponto a ponto, fracasso em fracasso dos outros, o mais querido do Brasil burlou as piores certezas e alcançou o topo da tabela. E se o time não vencer? E se perder o título novamente? Nada muda! Torcedores vão se revoltar, xingar, protestar e, daqui 3 meses, lá estarão, de novo, fazendo juras de amor ao time num clássico qualquer pelo campeonato estadual, àquele SEMPRE vence.

Segundo os mais românticos, o Flamengo é inexplicável. É sempre uma surpresa. É sempre notícia. Torcedores, dirigentes, jogadores, tem sempre alguém nas páginas dos jornais de todo o Brasil. Fala em Flamengo é falar em favorito. Os comentaristas determinam, por experiência, quais são os times ‘pequenos’ e os times ‘grandes’, mas em jogo com o Flamengo apresenta-se o impoderável sempre. Perder para o Flamengo, natural. Ganhar ou empatar, glória eterna. Por isso, sua torcida tem sempre ‘o coração na mão’, pois sabe que da conquista à derrota, tudo é possível. Segundo texto veiculado pela Internet, “é a única torcida do PLANETA que paga ingresso por dois espetáculos, sendo um no campo, como todas elas, e outro que ela mesma proporciona. O Flamenguista vai ao Maracanã para curtir o time, o jogo, o clima e a própria torcida”. Não há comparação!

Por isso, PARABÉNS! Contra tudo e contra todos, somos HEXACAMPEÕES porque nos superamos, nos envolvemos, nos convocamos e, principalmente porque soubemos não nos incomodar com a frágil supremacia de outros estados. Supremacia não ganha jogo! Kkkkkkkkk


PARABÉNS para toda a nação rubra negra sempre!!!
Profa. Ms. Claudia Nunes

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

CARTA A UMA AMIGA INTELIGENTE

Um livro importante passou pelas minhas mãos, olhos e mente nesses dias: “Conspiração Aquariana” de Marilyn Ferguson. E fiquei estupefata com o capítulo IV chamado Travessia: a mudança nas pessoas, cujas linhas contextualizavam o conceito de psicotecnologias. Ele diz o seguinte: “Psicotecnologias são sistemas para uma deliberada modificação da consciência” (pág. 82) “oferecem um movimento controlado, contínuo, no sentido da realidade ampla (pág. 84) “se destinam a afrouxar o aperto (contração da consciência) a fim de que possamos flutuar, do mesmo modo que um guarda-vidas se liberta do aperto de uma pessoa em pânico porque está se afogando, para que essa pessoas possa ser salvar” (pág. 87) e “não causam incerteza, assim como não produzem liberdade. Apenas abrem nossos olhos a ambas. A única coisa que se perde é a ilusão (...) [logo] ficamos livres não para conhecer uma resposta, mas para mudar de posição” (pág. 101).

Fiquei chocada! Como ninguém me avisou que não precisamos mais de respostas? Ou que minha mente pode ser modificada para saber tudo e escolher apenas algumas coisas pra lembrar? Nossa, essas psicotecnologias são liberdades demais! Ótimo! Mas ainda não acabou não! Distraída em minha casa, fui zapear a TV e vi um documentário cujo tema era a tragédia do Edifício Joelma em SP. Meus olhos ficaram presos naquelas cenas e no som das palavras do locutor. Ar sombrio, sinistro, arrepiante. Segundo ele, no edifício ainda ocorrem fatos estranhos, como vultos, gritos, passos. Mas o que me chamou a atenção mesmo foram as explicações: de um lado kardecismo e budismo; de outro, a ciência na figura do Prof. Renato Sabbatini. Achei interessantes (mas estranhas) as posições da ciência no que concerne a apresentação da dinâmica (orgânica) cerebral no trato com àqueles fatos. Fiquei cheia de dúvidas e incômodos, e quero compartilhar com você, tudo bem??

Veja se estou “pensando direito”: psicotecnologias e ciência oferecem níveis de comprovação diferentes, mas ambas acontecem e se organizam no intuito de mudar a atitude humana diante dos eventos da vida. E, pelo jeito, (foi o que percebi) estar em uma dimensão ou outra, exige uma certeza: a crença. É preciso crer (aceitar) para entender, conhecer, saber. Segundo o Prof. Renato, existe um centro no cérebro onde há a possibilidade de se desenvolver uma intuição sobre o ainda não-vivido (provavelmente ele se refere ao sistema límbico, ou não?), então, por que esse centro, e seu possível estudo, estão alijados do processo científico?

Amiga, suspeito que sua resposta, além de descaracterizar a veracidade dos acontecimentos, verse sobre a questão da comprovação, processo que torna o objeto de estudo ou fato acontecido acessíveis às diversas interferências técnicas. Mas como explicar a intuição, antecipação sentida de alguns eventos? Será que isso estaria no viés da alucinação induzida? Coletiva? Ser sensitivo seria ser alucinado?

Querida amiga, o programa me fez pensar sobre algumas coisas e uma delas é a seguinte: experiências inexplicáveis também são experiências, e experiências de vida, não é?? Então, será que algumas informações, no espaço cerebral, constroem-se, vez por outra, como premunições, já que se conformam ou dentro do espaço da negação ou dentro do espaço do desejo? Negar seria realocar a informação num canto escuro do cérebro e procurar nunca mais atraí-la, procurá-la ou retirá-la dali? Desejar seria manter informações em expectativa (como possibilidade), atravessando cada novo reflexo no mundo? A palavra premunição é “incomodante”... Pré-munir seria manter informações ao nível do inconsciente de forma a serem usadas ou em momento de pleno relaxamento ou em momento de total tensão; logo, pensa-se em “pré-munição”, como se fosse uma ação que reinvoca àquelas informações à luz da consciência. Ou não? O cérebro diariamente pode munir-se de algumas armas (tipos de informação) de forma a nunca, em tempo algum, ser pego desprevenido? Nem estou falando sobre a ação de esquecer (nossa discussão diária!), estou falando de um cérebro que tenta sobreviver, por prevenção, a qualquer tipo de choque e, aí, tende a criar novos significados para todos os seus estímulos. Sei que essa seara é toda sua e é justamente por isso que escrevo pra vc. Só peço que continue me lendo e pensando comigo, tá?

Diante da tensão, da eletrização dos neurônios e da dinâmica das sinapses, a ciência até se acalma, pois se agarra nessa possível identidade aceitando-a como verdadeira, mas, como explicar premunições diante e a partir, por exemplo, do relaxamento? Talvez um bom início de explicação seja ampliando a palavra relaxamento como distração. Relaxar surge, então, como um torna-se poroso e, assim, abrir-se para todo tipo de interação, basicamente espiritual. É deixar a ferramenta intelectual chamada ‘atenção’ de lado e se deixar envolver pelas surpresas de múltiplas informações. Mas aí é preciso aceitar que vivemos sob diversas dimensões e que, diante de laços culturais cujos “parâmetros e os truísmos (...) representam verdades universais ou algum tipo de clímax de civilização” (...)” nos prendam “por um sistema de conceitos inextrincavelmente enraizados em nossa experiência” (1981: 98) e do qual precisamos nos libertar. Se libertados, tornamo-nos budistas, terapeutas, kardecistas, umbandistas, meditativos etc., enfim, tornamo-nos psicotecnólogos! Relaxar como distrair então é tornar a possibilidade de trair entendimentos certificáveis e que, provocada pelo insólito ou por um simples estranhamento, redinamiza a plasticidade cerebral na perspectiva de um raciocínio sobre o próprio fato. Plasticidade cerebral então seria uma manobra orgânica para entender, novamente. É possível? Aí estaria a tábula rasa onde se determinou que o cérebro é o Rei da Razão? Puxa amiga, queria tanto não precisar escrever isso! Enfim... O que estranho então é que, se o cérebro não divide a responsabilidade com o coração, se nem delega certos poderes a esse outro órgão, deve concentrar em si as capacidades de sentir e perceber, ou seja, de emocionar-se, ação em que a razão nem sempre é seu fim ultimo, nem seu alvo, nem seu destino. LeDoux instala essas ações na amígdala, é possível? Amiga, será que você vai me dizer que essas ações têm relação com algo também já-sabido e que ocorrem emergindo informações que não puderam fazer parte da bainha de mielina ou de nenhum neurotransmissor?

Amiga, vi o programa, li o capítulo e só me lembrei de você, até pq sei que você também tem um lado mais “sentimental”. Será que também, em seus momentos de “iluminação”, você se coloca no reino dos alucinados coletivos ou induzidos e se comporta como a ciência determinou que os alucinados devem se comportar? Se muitos de nós não acreditam em nomes (Deus, Jeová, Buda etc) e, mesmo assim, impulsionamos nossos dia-a-dia diante do “simples” pensamento positivo, o que fazer com as realizações obtidas pelo uso desse mesmo pensamento? Isso também seria alucinação? Seria tão bom escutar sua resposta a isso...

Segundo as informações veiculadas pelo programa, e semelhante ao movimento de todas as tragédias gregas, houve o destino cego imposto pelas Moiras ao Edifício Joelma. O edifício foi construído num terreno em que aconteceu um triplo assassinato e um suicídio: um filho matou inexplicavelmente mãe e duas irmãs. Um crime premeditado, pois semanas antes, ele mandara construir um poço que seria o tumulto das mulheres. Com o cerco da investigação policial, ele não agüentou a pressão e matou-se, levando consigo o porquê de suas ações tão perversas. Ou seja, como, no filme Poltergeist, o Edifício Joelma foi construído sob terreno tumular, está fadado aos infortúnios mais radicais, e a ser um “tragos” (bode expiatório) dessa situação inicial. É uma explicação (entendimento) nada científica para os fenômenos que continuam ocorrendo, eu sei, mas é uma possível e bela explicação, não acha? Que a dinastia de Édipo não nos deixe mentir!

Amiga, estou começando a pensar que a ciência precisa sempre de comprovações, e essas devem ser vinculadas aos mais diversos testes e procedimentos. Sem isso, “finca o pé” como criança pirracenta, em toda a sua construção já arraigada nas mentes e na história, e, muitas vezes, denigre o que desentende, mantendo os indivíduos como construções sucessivas de certezas.

Pelo jeito, as psicotecnologias precisam apenas de tempo de adaptação e readaptação, tal sua abertura à observação do todo. Tornamo-nos “mais sensíveis aos ritmos e impulsos criativos da natureza e às oscilações de nossos próprios sistemas nervosos (...) [logo] nos alegramos sem hipotecas emocionais” (Ferguson, 1981:99). O mundo deixa de ser monocrônico e passa a ser policrônico (analógico para digital). Seu amigo, o cérebro... nosso cérebro... torna-se nossa melhor psicotecnologia, não acha?

“Aprendemos liberando e deixando fluir, não [só] adicionando” (Ferguson, 1981: 94). E se é para deixar fluir e liberar, a massa encefálica entra em disponibilidade, não só para a técnica (que pode conduzi-la a uma normalidade de movimento), mas para um envolvimento sensitivo pré-antecipado cujo resultado é sua durabilidade, flexibilidade, criatividade, versatilidade e inteligência. Todas essas categorias, percebidas em nossa interferência na realidade externa, diminuem turbulências e distúrbios, e nos apresentam com mais espontaneidade, equilíbrio e harmonia. Somatório de tudo isso: crescimento integral.

Minha amiga inteligente, pelo que vi no programa, ainda hoje, manter-se re-ligado a um plano ulterior e não-visto, é estabelecer um nível de envolvimento e transformação do cérebro sem limites. Competências, nós temos. Habilidades, nós construímos. Potencialidades, nós transcendemos. Vendo o programa, aceito como conclusivas as palavras de Ferguson “quem se envolver com as psicotecnologias percebe que os impulsos internos e ‘pressentimento’ não contrariam a razão e sim representam o raciocínio transcendente, a capacidade do cérebro para uma análise simultânea que não podemos conscientemente acompanhar e compreender” (Ferguson, 1981: 102).

Por favor, normalize-me! Apareça! Aguardo vc, tá?

Abraços, Claudia.


Profa. Ms Claudia Nunes
Especialista em Tecnologia Educacional/UCAM

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...